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Economia Solidária

Jenniffer Simpson dos Santos
Publicado em 2019-04-01

O conceito Economia Solidária surgiu no Brasil no início da década de noventa do século passado, para designar uma alternativa material contrária aos modos de produção, de distribuição e de consumo impostos pelo capitalismo. A economia solidária compreende uma diversidade de práticas socioeconômicas auto-organizadas em favor da emancipação de seus membros, baseada em valores de cooperação e de solidariedade a partir de mecanismos da democracia participativa, da autogestão e da autonomia.

 

Embora a origem do conceito seja recente e localizada, as suas vastas expressões não as são. Uma série de outras economias mais justas e solidárias se concretizam em vários continentes e evocam experiências anteriores ao atual modo de produção hegemônico. Para referir apenas algumas dessas experiências que sublinham os caminhos de uma economia autogestionária na luta contra o empobrecimento: as iniciativas populares solidárias, as entreajudas comunitárias, as cantinas populares, as redes e clubes de troca, as cooperativas de produção e comercialização, os coletivos de geração de renda, os sistemas de comércio justo, as finanças solidárias e as associações de mulheres.

 

Tais expressões, com notável participação no Fórum Social Mundial, enunciam e afirmam a urgência de pensar no potencial de outras lógicas de produção e de organização da vida que valorizam a relação com o coletivo e com a natureza. Importa valorizar ainda a capacidade de decidir e de fazer juntas/os, limitando a ordem de acumulação de capital.

 

Uma outra economia acontece quando o sentido coletivo importa mais que o fim individual. Esse acontecimento concretiza-se em processos econômicos de reciprocidade e redistribuição através da autogestão solidária do bem comum. O exercício da solidariedade na economia funda-se na igualdade, reforçando o poder de ação coletiva dos/as trabalhadores/as. Na perspectiva das “epistemologias do Sul”, a prática da economia solidária consiste na possibilidade de aprendizagem dialógica com uma plural tradição de luta e de organização de modos produtivos de vida que foram subalternizados, mas que insistem em contrariar a lógica de exploração capitalista, de opressão colonial e dominação patriarcal.

 

Neste sentido, falar de economia solidária é falar de resistência. Resistência à larga escala, resistência ao modo de produção hegemônico, resistência ao imediatismo do consumo, resistência ao utilitarismo. Em suma, falar de economia solidária é falar dos desafios de uma alternativa econômica que não busca apenas garantir os meios de subsistência, mas que produz modos de vida comprometidos com a outridade em seus vários tempos.

 


Referências e sugestões adicionais de leitura:

Laville, Jean-Lois; França Filho, Genauto Carvalho (2004), Economia solidária: uma abordagem internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

Santos, Boaventura de Sousa (org.) (2002), Produzir para viver: os caminhos da produção não caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Singer, Paul; Souza, André Ricardo (orgs.) (2000), A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto

 


Jenniffer Simpson dos Santos é Professora da Universidade do Contestado. Doutorada em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Contacto: simpson.jenniffer@gmail.com

 

 

Como citar

Santos, Jenniffer Simpson dos (2019), "Economia Solidária", Dicionário Alice. Consultado a 28.03.24, em https://alice.ces.uc.pt/dictionary/?id=23838&pag=23918&id_lingua=1&entry=24273. ISBN: 978-989-8847-08-9