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Opinião
Questionário de Proust. Bruno Sena Martins: “Amílcar Cabral é a figura histórica com que mais me identifico”
Bruno Sena Martins
Público
2021-08-13

Para o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a ideia de felicidade perfeita é “uma terra enfim liberta do colonialismo e dos amos que a toda a hora se reinventam”.



Qual a sua ideia de felicidade perfeita?
Uma terra enfim liberta do colonialismo e dos amos que a toda a hora se reinventam.
Qual é o seu maior medo?
Aqueles “tarde demais” que nos deixam remorsos - ou remordimientos (boa palavra do espanhol).
Na sua personalidade, que característica que mais o irrita?
Excesso de opiniões assertivas sobre minudências desinteressantes (felizmente, vou guardando bastantes para mim, pelo menos é essa a minha opinião).
E qual o traço de personalidade que mais o irrita nos outros?
Agressividade no trato.
Que pessoa viva mais admira?
Davi Kopenawa Yanomami - um xamã yanomami e activista pelos direitos dos povos indígenas.
Qual a sua maior extravagância?
Prefiro ver futebol sozinho e é frequente ver jogos gravados em diferido quando consigo alguma quietude.
Qual o seu estado de espírito neste momento?
Vagamente desalentado por não ter tempo para ver o Brasil-México em repetição por estar a preencher um inquérito que afinal é mais difícil do que eu pensava.
Qual a virtude que pensa estar sobrevalorizada?
A suposta combatividade libertária daqueles que militam pelo encarceramento dos grupos historicamente oprimidos em antiquíssimos preconceitos.
Em que ocasiões mente?
Quando me perguntam se aguento mais uma hora de reunião.
O que menos gosta na sua aparência física?
Tenho entradas assimétricas (pela minha saúde!).
Entre as pessoas vivas, qual a que mais despreza?
Jair Bolsonaro.
Qual a qualidade que mais admira num homem?
O desprezo pelos padrões dominantes de masculinidade.
E numa mulher?
O desprezo pelos padrões dominantes de masculinidade.
Diga uma palavra – ou frase – que usa com muita frequência
“Não pode ser tão importante” (normalmente uso em momentos importantes de desventura, como quando o FC Porto é eliminado da Liga dos Campeões)
O quê ou quem é o maior amor da sua vida?
Os livros que na adolescência me fizeram nostálgico antes do tempo.
Aonde e quando se sente mais feliz?
A dormir uma sesta perto do mar.
Que talento não tem e gostaria de ter?
Talento musical.
Se pudesse mudar alguma coisa em si o que é que seria?
Prontidão para sair de casa. Perco muito tempo à procura das chaves, da carteira e do telemóvel (a ordem é aleatória).
O que considera ter sido a sua maior realização?
Após longas horas pela noite de Bhopal à boleia de um rickshaw avariado, recuperei o meu passaporte que estava caído no autocarro em que eu tinha viajado de Indore. Eu e o taxista abraçámo-nos heróicos.
Se houvesse vida depois da morte, quem ou o quê gostaria de ser?
Um embondeiro com vista para o mar.
Onde prefere morar?
Longe do frio.
Qual o seu maior tesouro?
Um cesto que um artesão cego me ofereceu em Changara, Província de Tete, Moçambique.
O que considera ser o cúmulo da miséria?
A ausência de alternativas válidas ao capitalismo neoliberal e a ausência de uma memória pública sobre da violência colonial europeia.
Qual a sua ocupação favorita?
Jogar futebol (no sentido em que a nostalgia de jogar ainda me ocupa bastante)
A sua característica mais marcante?
Sou memorioso.
O que mais valoriza nos amigos?
A generosidade.
Quem são os seus escritores favoritos?
Jorge Luis Borges (os dois).
Quem é o seu herói de ficção?
Animal, o protagonista de Animal’s people. Um Romance de Indra Sinha sobre o desastre de Bhopal.
Com que figura histórica mais se identifica?
Amílcar Cabral.
Quem são os seus heróis na vida real?
Activistas que doam a vida pela causa: antirracistas, LGBTQI+, anticapacitistas,feministas e anticapitalistas.
Quais os nomes próprios de que mais gosta?
Isis, Lara, Núbia, Karenina e Luca (este último é um gosto mais recente).
Qual o seu maior arrependimento?
Não ter ido a um concerto de Ennio Morricone no anfiteatro romano de Verona por razões que hoje reputo de fúteis (tinha um voo marcado).
Como gostaria de morrer?
Num concerto de Ennio Morricone (agora já é tarde).
Qual o seu lema de vida?
Não fazer perguntas cedo demais.



Conteúdo Original por Público