Mário Vitória (2013) A liberdade comovendo o povo [tinta da china e acrílico s/papel, 50x65cm]

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Fernando Perazzoli, Flávia Carlet

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Algumas pessoas compõem canções, outras pintam quadros ou contam estórias, e há ainda aquelas que fazem revoluções para mudar o mundo. No mar infindável das possibilidades de(...)
Fernando Perazzoli, Flávia Carlet

 

 

José Martí

Gabriela Rocha
Publicado em 2022-01-06

O pensador da liberdade dos povos latino-americanos

¿Qué me importa que tu puñal
Se me clave en el riñon?
Tengo mis versos,
Que son más fuertes que tu puñal!

¿Qué me importa que ese dolor
Seque el mar, y nuble el cielo?
El verso, dulce consuelo,

Nace alado del dolor.

(Martí,1891/2001: 114)

 

José Martí (1853-1895) foi um pensador e político cubano que dedicou sua vida à escrita e à ação política na luta pela independência de seu país da colonização espanhola e pela construção de uma unidade latino-americana. Além de ter participado ativamente da vida pública de sua época, Martí influenciou eventos como a Revolução Cubana (1953-1959) e ainda inspira movimentos políticos e culturais que remetem para seu ideário poético e libertador. A sua trajetória, que une pensamento e ação de maneira tão radical que se tornam quase indistinguíveis, é marcada por uma forte temporalidade histórica e por outro lado, um humanismo que se pretendia atemporal.

 

Ao assumir uma posição de intelectual “engajado” e crítico em relação aos problemas que o afligiam desde jovem, quando observava as injustiças e opressões do contexto colonial, José Martí propunha pensar os limites da humanidade imaginando novos destinos para os povos oprimidos. Pensar o seu tempo, nas relações concretas que o produziam, era para Martí tão vital e urgente quanto agir sobre ele e nesse intuito ele optou por universalizar sua experiência no mundo, construindo suas próprias concepções sobe o humano, a política, a liberdade e a identidade.

 

Da pluralidade de escritos que ele deixou, dentre eles ensaios, crônicas, poemas e discursos, poder-se-ia adotar uma série de perspectivas para se dizer quem foi José Martí, quais foram as repercussões de seu pensamento e porque ele deve ser reconhecido como um Mestre do Mundo. Propõe-se aqui relacionar o caráter anticolonial e contra-moderno do pensamento de Martí, ao versar sobre a política como luta pela independência dos povos colonizados e sobre o desenvolvimento de uma ideia de identidade latino-americana fundamentada na originalidade de seu processo histórico.

 

Embora a necessidade de universalizar o particular e de resgatar uma unidade originária dos povos latino-americanos demonstre a raiz ainda muito moderna do pensamento martiano, é preciso ressaltar o caráter ensaístico da sua escrita histórica, para perceber o seu potencial transformador. Martí tinha a consciência de que seu texto se inseria nas tensões e disputas por uma representação da modernidade que dirigisse os destinos políticos da América Latina. É na compreensão da história como um processo aberto em que sujeitos políticos ressignificam a sua existência, que se verificará a atualidade do pensamento de José Martí para os movimentos políticos e identitários da contemporaneidade.



A ideia de independência perpassa todo o pensamento martiano e a sua visão sobre a política e a própria condição humana, sendo fundamental para a elaboração da sua concepção de unidade latino-americana. A independência não se constrói apenas no plano institucional, mas, principalmente, no plano espiritual, quando um povo desenvolve a capacidade de pensar sobre si mesmo, a partir de sua própria realidade. Em um sentido mais radical, a independência política cubana e de todas as nações latino-americanas é a condição sem a qual elas não poderão ser livres e ao mesmo tempo, é a consequência de uma liberdade espiritual que só se pode desenvolver a partir de uma transformação do pensamento. Assim, para ele, não bastava que um governo republicano nacional substituísse formalmente as instituições espanholas para se considerar que haveria ali uma nação liberta. Martí sabia muito bem que as relações coloniais criavam raízes profundas nas nações descolonizadas, principalmente ao formar elites que se comportavam como verdadeiras tiranas, mantendo as mesmas estruturas de dominação e as relações de dependência com a antiga metrópole.

 

Nesse sentido, o que fraturava as novas repúblicas americanas, o que as incapacitava de serem livres, era a perpetuação do colonialismo nas estruturas políticas internas, a formação de partidos políticos que não representavam a totalidade dos interesses nacionais, mantendo uma visão eurocêntrica e modernizante sobre a própria identidade.

 

Martí se mostrava ainda bastante crítico à intelectualidade modernizadora de sua época, aquela que se esforçava por reproduzir os princípios da civilização europeia e assim, caíam num vazio de ideias abstratas e de liberdades formais, que não seriam capazes de superar as injustiças e os privilégios das elites nativas. “Os jovens saem pelo mundo adivinhando as coisas com óculos ianques ou franceses e pretendem dirigir um povo que não conhecem.” (Martí, 1891/1983:195)

 

Para Martí, o exercício da política exigia um conhecimento profundo sobre a realidade local, algo que as elites governantes, formadas a partir da visão estereotipada do colonizador, eram incapazes de oferecer. Porque sua compreensão  de governo, de república e de política é fincada numa perspectiva histórica, temporalizada, situada num contexto concreto, é assim capaz de conjugar pensamento e prática.

 

A disputa entre integração de um lado e particularismo de outro tornou-se o cerne dos problemas fundamentais envolvidos na descolonização da América Latina. Descolonizar-se significaria superar as condições que incapacitavam essas nações de acederem ao desenvolvimento civilizacional europeu ou, pelo contrário, romper profundamente com todas as referências criadas pela metrópole para legitimar a dominação colonial? A América Latina deveria se desenvolver autonomamente, resgatando o que o processo colonial havia destruído, ou deveria deixar para trás os destroços da colonização e construir uma “nova Europa”, capaz de se lançar no espaço internacional em condições similares às dos outros países?

 

Para o poeta Roberto Fernández Retamar (1978, 1989), herdeiro do pensamento de Martí, a identidade latino-americana, diferentemente da dos demais povos colonizados, é caracterizada pela originalidade de ser essencialmente mestiça, daí que os processos de independência tenham sido tão significativos para forjar as raízes que nunca estiveram fixadas em nenhuma referência de origem predominante.

 

Os diferentes projetos políticos que estavam em jogo na luta pela independência dos países ainda sob o domínio espanhol eram questões que marcavam o contexto em que vivia José Martí. Um elemento importante da época era o crescimento do poderio econômico e político dos Estados Unidos, país em que Martí viveu exilado durante quinze anos. Aí presenciara o surgimento de um projeto imperialista de América e emergiram para ele os desafios de lutar pela independência cubana num contexto em que os poderes coloniais se rearticulavam em novos jogos de forças.

 

Para Martí, a inspiração de Simon Bolívar serviu à elaboração uma perspectiva contraposta ao pensamento que predominava entre os estudos sobre a identidade latino-americana, segundo os quais era preciso “civilizar” as nações através da modernização, o que significaria expurgar os traços de barbárie advindos das raízes imperfeitas dos povos nativos. O racismo desse raciocínio alcançou grande notoriedade principalmente na obra de Domingo Faustino Sarmiento, Facundo, ou civilização e barbárie, lançada em 1845, da qual Martí se tornaria grande opositor. Segundo Sarmiento, os países latinos deveriam se desenvolver pelas estratégias de branqueamento, na visão dele, bem sucedidas na formação dos Estados Unidos.

 

A ideia de uma identidade latino-americana em Martí, embora atravesse boa parte de seus escritos, encontra-se mais elaborada no ensaio Nuestra América, publicado em 1891. Nele, Martí propõe um manifesto que convoca os povos latino-americanos a subverterem a perspectiva colonial sobre suas identidades e reinventarem uma América emancipada, tanto política quanto filosófica e epistemologicamente.

 

Nuestra América levanta as diferentes formas como as relações coloniais se perpetuam no imaginário das sociedades latinas, na maneira como as populações se representam a si mesmas, no comportamento arrogante das elites governamentais, que se mantêm subjugadas ao poder que vem de fora e assim mantêm os vínculos de dependência. Denuncia o racismo do projeto político que pretende implantar novos impérios na América Latina, consciente de que para além da herança colonial espanhola, de contornos muito mais concretos aparece a ameaça imperialista dos Estados Unidos.

 

As transições políticas não teriam alterado a raiz do problema, que, para Martí, era a violência colonial, negando a possibilidade da existência e de autogoverno das populações nativas da América. Para ele, era preciso que um novo projeto político resgatasse as raízes comuns desses povos, os elementos naturais contra os artificiais, ou seja, a autenticidade contra o projeto civilizacional moderno vindo de fora.

 

Nuestra América tem, para além de uma enorme força política, um sentido revolucionário também no campo epistemológico. Boaventura de Sousa Santos destaca o significado de Nuestra América na produção de uma subjetividade latino-americana utópica, contestatória, embebida do que ele denomina de otimismo trágico, “a experiência dolorosa e a consciência lúcida dos obstáculos à emancipação e, por outro lado, a crença inabalável da possibilidade de os superar” (Santos, 2006:204). Martí inaugura, para Santos, uma contra-modernidade que possibilitaria a produção e legitimação de conhecimentos localizados, profundamente implicados com a experiência concreta das populações e além disso, de outras formas de conhecer (Santos, 2006).

 

A unidade latino-americana, assumindo a forma de um modelo de contra-modernidade, tem sua força expandida como um discurso de libertação que se recusa a pensar a política deslocada da cultura, da história, dos valores, das subjetividades. Enquanto projeto político, acabou por ser contra-hegemônica em relação aos destinos que os países latino-americanos tiveram no contexto das relações internacionais, pois a América Latina continuamente recriou os seus vínculos com os padrões da modernidade e com os modelos imperialistas e neocolonialistas de governo.

 

Os revolucionários cubanos da década de 1950 viviam em uma Cuba de governos oligárquicos e corruptos, com forte dependência econômica e política. Não havia tantas diferenças em relação ao contexto presenciado por Martí, mas uma outra conjuntura global, que permitia a esses novos revolucionários lerem Nuestra América atualizando o seu sentido à luz das potencialidades políticas da época.

 

O processo revolucionário que culminou na derrubada do presidente Fulgêncio Batista, em 1959, e a instauração de um governo de caráter marxista-leninista sob a liderança de Fidel Castro, esteve intimamente ligado à repercussão de Nuestra América para a história dos movimentos políticos que atravessaram o continente. A metáfora cunhada por Martí havia sido universalizada, ao se associar a opressão dos povos latino-americanos à exploração capitalista sofrida por todo o proletariado. A Revolução Cubana trouxe a perspectiva global que o marxismo propõe sobre o capitalismo como uma forma de reinscrever as ideias de Martí enquanto produtoras de novos significados e possibilidades para a história dos povos latino-americanos.

 

Havia no discurso revolucionário, e em todo o processo por ele desencadeado, a centelha da busca pela autenticidade da identidade latino-americana. Contudo, ficava mais explícito o caráter emergente e estratégico dessa identidade. Ela existia como um produto da modernidade, forjada enquanto tal, mestiça e subjugada pelas relações coloniais e pelo capitalismo imperialista, e precisava urgentemente se desgarrar das entranhas do “monstro”1 para se desenvolver plena e autonomamente.

 

Entretanto, a memória de Martí nunca serviu a uma só interpretação ou a uma só perspectiva ideológica. Ao passo que as ideias de liberdade martianas inspiravam Fidel Castro e os revolucionários socialistas, outras lideranças políticas, como o próprio Fulgêncio Batista, também buscaram a sua referência para afirmar posições antagônicas.2

 

Isso decorre do fato de que a trajetória de Martí na busca pela construção de um projeto nacional unificador se atrelava a valores universais, como a liberdade, a independência, a educação, a cultura – o que é apropriado por visões bastante contraditórias sobre quais projetos concretos realizariam esses valores. Daí, porque a própria memória de Martí se torna um objeto de disputa, ainda mais ao se considerar que ele mesmo foi um sujeito deslocado das raízes que tanto exaltava, não tendo nunca podido fazer parte da construção concreta do projeto nacional que propusera.

 

Na convivência com as características contraditórias da cultura norte-americana, Martí desenvolveu um olhar crítico em relação à maneira de se fazer política nos Estados Unidos e repudiava a atuação das elites econômicas em governar todas as esferas da vida, invadindo o espírito nacional com a ganância pelo lucro insaciável. Ele então conhecia “as entranhas do monstro”, nascendo numa sociedade que se tornava excessivamente materialista e individualista.

 

Isso não significava a rejeição completa ao projeto nacional norte-americano, que para ele continha características republicanas interessantes, mas à imposição deste às nações latino-americanas que lutavam por sua independência. Era o imperialismo econômico e cultural, a conformação desigual das forças políticas a partir da hegemonia econômica de um país que, para Martí, comprometeria a independência de Cuba e das demais nações de Nuestra América. Portanto, o problema não estava nos Estados Unidos em si, mas na constante ameaça de que pequenas elites privassem populações latino-americanas da possibilidade do autogoverno, a partir de suas próprias necessidades e características.

 

Por essa razão, o ideário martiano é também inspiração para aqueles que se opõem ao governo socialista implantado por Fidel Castro, que se perpetuou no poder até os dias de hoje, por meio da negação de direitos políticos e da liberdade de imprensa. Para esses movimentos, a essência do pensamento de Martí – a busca de uma república que garanta a liberdade espiritual dos povos – não se coaduna com um governo que nega a liberdade de pensamento pela imposição de uma única ideologia, ainda que esta tenha tido um caráter revolucionário em seu princípio. Assim, muitos deles resgatam a visão positiva que Martí nutria sobre a sociedade norte-americana, o seu apreço pelo espírito empreendedor e pragmático e a sua não adesão a visões dicotomizadas da política.

 

Por fim, sendo um pensador tão profícuo, Martí não sintetizou as suas reflexões em uma só obra, pois elas ficaram dispersas em artigos, ensaios, discursos, cartas e poemas, como um saber prático que se destina a se difundir para além das fronteiras intelectuais. De modo semelhante, as influências de Martí acabaram sendo tão dispersas quanto a sua obra, na poesia, na música, nos discursos, no pensamento sociológico e político. Uma das características de Martí se reflete na maneira como seu trabalho impacta as gerações seguintes e serve de inspiração ao pensamento sobre a América Latina e aos movimentos políticos: a crítica ao lugar da intelectualidade. Para ele, pensar e conhecer imprescindiam de uma relação dialética com a prática, a ação e a experiência. Essa era uma postura extremamente inovadora para sua época e não se pode dizer que já não o seja.

 

Assim como na trajetória de Martí, a disputa por contra-modernidades continua sendo uma tarefa árdua, que se coloca na fronteira da ação e do pensamento a fim de questionar e subverter essa dicotomia. Todavia, como se trata de uma tarefa muito mais repleta de incertezas do que de certezas, ela nos coloca em constantes riscos de retrocesso, de que nossas expectativas e projeções acabem sendo frustradas, até mesmo expurgadas ou invisibilizadas da história. Daí a necessidade de resgatar nomes e experiências que foram subalternizados pela modernidade hegemônica – através de estratégias como a sociologia das ausências e das emergências, proposta por Boaventura de Sousa Santos (2006) – e de reinscreve-los nas lutas do presente como passados que não puderam se concretizar, mas que ressurgem na nossa capacidade de combater o mito do fim da história.

 

O caráter ensaístico da obra de Martí é especialmente produtivo neste momento. A partir dele, percebemos que é preciso conhecer as realidades e conjunturas, os fatores que determinam a vida social, mas além disso, é preciso se posicionar diante deles sem que a nossa observação os enclausure em significados estanques. O conhecimento, a escrita e a imaginação não se desprendem nessa atividade, pois a palavra não busca confirmar aquilo que existe, mas antes transformar o que existe a partir das potencialidades que a escrita/ação pretende irromper.

 

Nesse sentido, há que se indagar sobre o vínculo da ideia de Nuestra América a uma perspectiva ainda moderna de se pensar as identidades. Ainda que os processos de exploração humana que existem hoje e o neocolonialismo sejam de fato globais no seu alcance e na maneira como se articulam no espaço-tempo mundial, as experiências dos oprimidos são complexas, localizadas, marcadas por especificidades impossíveis de se reduzir a um modelo fixo de subjetividade. Aliás, fixar identidades sempre foi a estratégia de poder por meio da qual o colonialismo legitimou a invasão sobre os territórios coloniais.

 

Conforme Santos, refundar a Nuestra América significa transnacionalizar a mesma, repensar as políticas da igualdade, bem como as políticas da diferença, de maneira a combater a diferença que desiguala e a igualdade que descaracteriza. Enfim, inaugurar uma nova cultura política.


Notas  

  1. Este “monstro” se refere ao trecho da “Carta a Manoel Mercado”, publicada em 1895, pouco antes da morte de Martí, onde ele afirma: “Viví en el monstruo y le conozco las entrañas – y mi honda es la de David” (Martí, 1895/2001).
  2. Ver em Kirk, John M. José Martí and the United States: A Further Interpretation, Latin America Studies, 9, 2, 275-290. Disponível em http://www.latinamericanstudies.org/cuba/marti.pdf. Acesso em 18/02/2014.  

Referências

  • Kirk, John M. José Martí and the United States: A Further Interpretation, Latin America Studies, 9, 2, 275-290. Disponível em:http://www.latinamericanstudies.org/cuba/marti.pdf.  Acesso em 18/02/2014. 
  • Martí, José (1891/2001) ¿Qué me importa que tu puñal? Versos Sencillos, in Obras completas de José Martí, v. I. Habana: Centro de Estudios Martianos. p. 114.    
  • Martí, José (1891/1983) “Nossa América”, in Nossa América. Antologia. Tradução Maria Angélica de Almeida Trajber. São Paulo: HUCITEC. p. 194-197.
  • Martí, José (1895/2001) Carta a Manoel Mercado, in Obras completas de José Martí, v. IV. Habana: Centro de Estudios Martianos.    
  • Retamar, Roberto Fernández (1989) Caliban and others essays. Translated by Edward Backer. Minneapolis: University of Minnesota Press.
  • Retamar, Roberto Fernández (1978) Nuestra América y el Occidente. México: Unión de Universidades de América Latina.
  • Santos, Boaventura de Sousa (2006) A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez. 

Como citar

Rocha, Gabriela (2019), "José Martí", Mestras e Mestres do Mundo: Coragem e Sabedoria. Consultado a 29.03.24, em https://epistemologiasdosul.ces.uc.pt/mestrxs/?id=23838&pag=23918&id_lingua=1&entry=36610. ISBN: 978-989-8847-08-9