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Boaventura de Sousa Santos fala sobre justiça social

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos acredita que as democracias estão em perigo

Correio Braziliense
17 Sep 2016

Dono de 11 prêmios, entre eles um Jabuti e um Gulbenkian, e autor de, pelo menos, 22 livros, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos é uma das vozes mais contundentes da contemporaneidade quando se trata de democracia, direitos humanos e lutas sociais. Foi Boaventura quem, no início do século 20, ajudou a articular as ideias que levaram ao Fórum Social Mundial. Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal) e professor da Universidade de Wisconsin (Estados Unidos), o sociólogo será o homenageado da III Bienal Brasília do Livro e da Leitura em outubro, ao lado da poeta Adélia Prado, uma escolha que também revela uma posição política.

Aos 75 anos, Boaventura é muito direto ao criticar as sociedades contemporâneas, o neoliberalismo, as fragilidades democráticas nascidas do avanço do capitalismo e o que se faz em nome dos direitos humanos. O português fala em um novo capitalismo que corrói e esvazia a democracia por dentro para sobrepô-la. “O esvaziamento consiste na eliminação de todos os vestígios de soberania popular e das políticas de redistribuição social a favor das classes sociais mais vulneráveis, que em muitos países são a grande maioria da população”, lamenta. Para ele, os políticos de hoje são os CEOs de amanhã das grandes corporações detentoras do sistema financeiro mundial.

A cumplicidade entre esses dois mundos atua de várias formas e o imperialismo americano ou a pressão sobre estados nacionais, no caso da Europa, são algumas delas. Por isso a democracia representativa liberal estaria em perigo. “Para ser compatível com as exigências do capital financeiro nacional e internacional, tem de se afastar cada vez mais das maiorias que lhe dão legitimidade e o afastamento está assumindo dimensões fatais”, acredita. Para Boaventura, ainda faz sentido falar em direita e esquerda. Esta última, ele garante, é a única capaz de salvar a democracia mas, para isso, seria preciso se reinventar e apostar em novas formas de participação política. “(As esquerdas) têm de criar e dar credibilidade a formas não-liberais de democracia, o que implica aceitar que há outras formas de participação política para além dos partidos e que, nos próximos tempos, a luta democrática tem de ocorrer tanto dentro das instituições como fora delas, tanto no parlamento e nos tribunais como nas ruas e nos campos”, diz o autor de Se Deus fosse um ativista de direitos e Direitos humanos, democracia e desenvolvimento.

Uma das vozes que se levantou contra o impeachment de Dilma Rousseff, Boaventura de Sousa Santos acredita que é possível o surgimento de uma nova esquerda e que apenas ela seria capaz de ouvir a voz dos desfavorecidos. Mas para que funcione, é preciso o que chama de “quarto órgão de soberania”, representado pelo controle social por parte dos cidadãos. Entre uma e outra aula na Universidade de Wisconsin, onde costuma passar os meses de agosto e setembro, o sociólogo conversou com o Correio, por e-mail, sobre os rumos do Brasil e o futuro da democracia no mundo.

III Bienal Brasília do Livro e da Leitura
De 21 a 30 de outubro, no Estádio Mané Garrincha. Entrada livre

O senhor é o homenageado em uma Bienal de Livros de um país que quase não lê. Qual o papel do livro e da leitura num contexto como o brasileiro neste início de século 21?
O Brasil fez enormes progressos nos últimos 13 anos no domínio da educação. O livro e a leitura são os guardiães do tempo lento, dos momentos de reflexão, de presença conosco mesmos e de entretenimento desprovido de efeitos especiais. Estão a se transformar num componente de contracultura, mesmo quando (e sobretudo quando) entram no mundo eletrônico como e-books. O livro e a leitura, sobretudo num tempo em que a edição/publicação se democratizou, são uma garantia que a diversidade cultural vai continuar a poder ser celebrada. No passado os livros foram um alvo fácil dos censores e inquisidores. Hoje a censura opera por outros meios mais insidiosos, mas nem por isso menos perigosos.

O senhor comparou os movimentos surgidos em 2011 no mundo inteiro com grandes revoluções, como a de 1968 e 1917. Cinco anos depois, é possível dizer que houve rupturas?
A evolução foi muito diferente de país para país. Nos EUA, o movimento Occupy teve pouco impacto nas instituições políticas e não impediu que Wall Street se encarregasse de “resolver” a crise de modo a voltar de novo e rapidamente aos lucros. No Norte de África, só a Tunísia conseguiu instaurar um sistema democrático, ainda que permanentemente ameaçado pelo extremismo jihadista. Na Espanha, foi possível, a partir de um setor desse movimento, renovar o sistema político com a emergência de um partido de tipo novo, Podemos. Essa renovação abalou de tal forma o sistema político que ele se encontra numa situação de paralisia do qual certamente sairá, e esperemos que com ganhos para as aspirações de tantos que se mobilizaram nas ruas.

A democracia está em perigo no mundo?
A democracia representativa liberal está em perigo porque, para ser compatível com as exigências do capital financeiro nacional e internacional, tem de se afastar cada vez mais das maiorias que lhe dão legitimidade e o afastamento está assumindo dimensões fatais. As esquerdas são a única força política que pode salvar a democracia, mas para isso têm de cumprir duas condições muito exigentes. Por um lado, têm de se reinventar no sentido de serem internamente o espelho da democracia que querem para a sociedade. Segundo, têm de criar e dar credibilidade a formas não liberais de democracia, o que implica aceitar que há outras formas de participação política para além dos partidos e que nos próximos tempos a luta democrática tem de ocorrer tanto dentro das instituições como fora delas.

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