Esta página não será mais actualizada!
Por favor visite o novo Alice News em alicenews.ces.uc.pt

¡Esta página ya no será actualizada!
Por favor visite el nuevo Alice News en alicenews.ces.uc.pt

This page will no longer be updated!
Please visit the new Alice News at alicenews.ces.uc.pt

Esta página não será mais actualizada!
Por favor visite o novo Alice News em alicenews.ces.uc.pt

¡Esta página ya no será actualizada!
Por favor visite el nuevo Alice News en alicenews.ces.uc.pt

This page will no longer be updated!
Please visit the new Alice News at alicenews.ces.uc.pt

Charlie Hebdo: Uma reflexão difícil / Una reflexión difícil / Some tough quandaries

Não estamos perante um choque de civilizações, até porque a cristã tem as mesmas raízes que a islâmica. Estamos perante um choque de fanatismos

Público
Boaventura de Sousa Santos*
14 Jan 2015

O crime hediondo que foi cometido contra os jornalistas e cartoonistas do Charlie Hebdo torna muito difícil uma análise serena do que está envolvido neste ato bárbaro, do seu contexto e seus precedentes e do seu impacto e repercussões futuras. No entanto, esta análise é urgente, sob pena de continuarmos a atear um fogo que amanhã pode atingir as nossas consciências. Eis algumas das pistas para tal análise.

A luta contra o terrorismo, tortura e democracia. Não se podem estabelecer ligações diretas entre a tragédia do Charlie Hebdo e a luta contra o terrorismo que os EUA e seus aliados têm vindo a travar desde o 11 de setembro de 2001. Mas é sabido que a extrema agressividade do Ocidente tem causado a morte de muitos milhares de civis inocentes (quase todos muçulmanos) e tem sujeitado a níveis de tortura de uma violência inacreditável jovens muçulmanos contra os quais as suspeitas são meramente especulativas, como consta do recente relatório presente ao Congresso norte-americano. E também é sabido que muitos jovens islâmicos radicais declaram que a sua radicalização nasceu da revolta contra tanta violência impune. Perante isto, devemos refletir se o caminho para travar a espiral de violência é continuar a seguir as mesmas políticas que a têm alimentado como é agora demasiado patente. A resposta francesa ao ataque mostra que a normalidade constitucional democrática está suspensa e que um estado de sítio não declarado está em vigor, que os criminosos deste tipo, em vez de presos e julgados, devem ser abatidos, que este facto não representa aparentemente nenhuma contradição com os valores ocidentais. Entramos num clima de guerra civil de baixa intensidade. Quem ganha com ela? Certamente não o partido Podemos em Espanha ou o Syriza na Grécia.

A liberdade de expressão. É um bem precioso mas tem limites, e a verdade é que a esmagadora maioria deles são impostos por aqueles que defendem a liberdade sem limites sempre que é a “sua” liberdade a sofrê-los. Exemplos de limites são imensos: se em Inglaterra um manifestante disser que David Cameron tem sangue nas mãos, pode ser preso; em Franças, as mulheres islâmicas não podem usar o hijab; em 2008 o cartoonista Maurice Siné foi despedido do Charlie Hebdo por ter escrito uma crónica alegadamente antissemita. Isto significa que os limites existem, mas são diferentes para diferentes grupos de interesse. Por exemplo, na América Latina, os grandes media, controlados por famílias oligárquicas e pelo grande capital, são os que mais clamam pela liberdade de expressão sem limites para insultar os governos progressistas e ocultar tudo o que de bom estes governos têm feito pelo bem-estar dos mais pobres. Aparentemente, o Charlie Hebdo não reconhecia limites para insultar os muçulmanos, mesmo que muitos dos cartoons fossem propaganda racista e alimentassem a onda islamofóbica e anti-imigrante que avassala a França e a Europa em geral. Para além de muitos cartoons com o Profeta em poses pornográficas, um deles, bem aproveitado pela extrema-direita, mostrava um conjunto de mulheres muçulmanas grávidas, apresentadas como escravas sexuais do Boko Haram, que, apontando para a barriga, pediam que não lhes fosse retirado o apoio social à gravidez. De um golpe, estigmatizava-se o islão, as mulheres e o Estado social. Ao longo dos anos, a maior comunidade islâmica da Europa foi-se sentindo ofendida por esta linha editorial, mas igualmente foi pronta no seu repúdio deste crime bárbaro. Devemos, pois, refletir sobre as contradições e assimetrias na vida vivida dos valores que cremos serem universais.

Tolerância e “valores ocidentais”. O contexto em que o crime ocorreu é dominado por duas correntes de opinião, nenhuma delas favorável à construção de uma Europa inclusiva e intercultural. A mais radical é frontalmente islamofóbica e anti-imigrante. É a linha dura da extrema direita em toda a Europa e da direita, sempre que se vê ameaçada por eleições próximas (o caso de Antonis Samara na Grécia). Para esta corrente, os inimigos da nossa civilização estão entre nós, odeiam-nos, têm os nossos passaportes, e a situação só se resolve vendo-nos nós livres deles. A outra corrente é a da tolerância. Estas populações são muito distintas de nós, são um fardo, mas temos de as “aguentar”, até porque nos são úteis; no entanto, só o devemos fazer se elas forem moderadas e assimilarem os nossos valores. Mas o que são os “valores ocidentais”? Depois de muitos séculos de atrocidades cometidas em nome deles dentro e fora da Europa — da violência colonial às duas guerras mundiais —, exige-se algum cuidado e muita reflexão sobre o que são esses valores e por que razão, consoante os contextos, ora se afirmam uns ora se afirmam outros. Por exemplo, ninguém põe hoje em causa o valor da liberdade, mas já o mesmo não se pode dizer dos valores da igualdade e da fraternidade. Ora, foram estes dois valores que fundaram o Estado social de bem-estar que dominou a Europa democrática depois de Segunda Guerra Mundial. No entanto, nos últimos anos, a proteção social, que garantia níveis mais altos de integração social, começou a ser posta em causa pelos políticos conservadores e é hoje concebida como um luxo inacessível para os partidos do chamado “arco da governabilidade”. A crise social causada pela erosão da proteção social e pelo aumento do desemprego, sobretudo entre jovens, não será lenha para o fogo do radicalismo por parte dos jovens que, além do desemprego, sofrem a discriminação étnico-religiosa?

O choque de fanatismos, não de civilizações. Não estamos perante um choque de civilizações, até porque a cristã tem as mesmas raízes que a islâmica. Estamos perante um choque de fanatismos, mesmo que alguns deles não apareçam como tal por nos serem mais próximos. A história mostra como muitos dos fanatismos e seus choques estiveram relacionados com interesses económicos e políticos que, aliás, nunca beneficiaram os que mais sofreram com tais fanatismos. Na Europa e suas áreas de influência é o caso das cruzadas, da Inquisição, da evangelização das populações coloniais, das guerras religiosas e da Irlanda do Norte. Fora da Europa, uma religião tão pacífica como o budismo legitimou o massacre de muitos milhares de membros da minoria tamil do Sri Lanka; do mesmo modo, os fundamentalistas hindus massacraram as populações muçulmanas de Gujarat em 2003; é também em nome da religião que Israel continua a impune limpeza étnica da Palestina e que o chamado Emirado Islâmico massacra populações muçulmanas na Síria e no Iraque.

Várias perguntas sem resposta por agora. A defesa da laicidade sem limites numa Europa intercultural, onde muitas populações não se reconhecem em tal valor, será afinal uma forma de extremismo? Os diferentes extremismos opõem-se ou articulam-se? Quais as relações entre os jihadistas e os serviços secretos ocidentais? Por que é que os jihadistas do Emirado Islâmico, que são agora terroristas, eram combatentes de liberdade quando lutavam contra Kadhafi e contra Assad? Como se explica que o Emirado Islâmico seja financiado pela Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Turquia, todos aliados do Ocidente? Uma coisa é certa, pelo menos na última década, a esmagadora maioria das vítimas de todos os fanatismos (incluindo o islâmico) são populações muçulmanas não fanáticas.

O valor da vida. A repulsa total que sentimos perante estas mortes deve-nos fazer pensar por que razão não sentimos a mesma repulsa perante um número igual ou muito superior de mortes inocentes em resultado de conflitos que, no fundo, talvez tenham algo a ver com a tragédia do Charlie Hebdo? No mesmo dia, 37 jovens foram mortos no Iémen num atentado bombista. No verão passado, a invasão israelita causou a morte de 2000 palestinianos, dos quais cerca de 1500 civis e 500 crianças. No México, desde 2000, foram assassinados 102 jornalistas por defenderem a liberdade de imprensa e, em Novembro de 2014, 43 jovens, em Ayotzinapa. Certamente que a diferença na nossa reação não pode estar baseada na ideia de que a vida de europeus brancos, de cultura cristã, vale mais que a vida de não europeus ou de europeus de outras cores e de culturas assentes noutras religiões. Será então porque estes últimos estão mais longe de nós ou conhecemo-los pior? Será porque os grande media e os líderes políticos do Ocidente trivializam o sofrimento causado a esses outros, quando não os demonizam ao ponto de nos fazerem pensar que eles não merecem outra coisa?

*Director do Centro de Estudos Sociais, Laboratório Associado, da Universidade de Coimbra e coordenador do Projeto ALICE.

———-

Charlie Hebdo: Una reflexión difícil

No estamos ante un choque de civilizaciones, incluso porque la cristiana tiene las mismas raíces que la islámica. Estamos ante un choque de fanatismos, aunque algunos de ellos no aparezcan como tales por sernos próximos

El repugnante crimen cometido contra los periodistas y dibujantes del semanario Charlie Hebdo hace muy difícil un análisis sereno de lo que está implicado en este acto bárbaro, de su contexto y precedentes, así como de su impacto y repercusiones futuras. Sin embargo, este análisis es urgente, bajo pena de continuar avivando un fuego que mañana puede alcanzar a las escuelas de nuestros hijos, nuestras casas, nuestras instituciones y nuestras conciencias. Ahí están algunas pistas para tal análisis.

La lucha contra el terrorismo, la tortura y la democracia No se pueden establecer nexos directos entre la tragedia de Charlie Hebdo y la lucha contra el terrorismo que los EUA y sus aliados están ejecutando desde el 11 de septiembre de 2001. Pero es sabido que la extrema agresividad de Occidente ha causado la muerte de muchos millares de civiles inocentes (casi todos musulmanes) y ha sometido a niveles de tortura de una violencia increíble a jóvenes musulmanes contra los cuales las sospechas son meramente especulativas, como consta en el reciente informe presentado al Congreso norteamericano. Y también es sabido que muchos jóvenes islámicos radicales declaran que su radicalización nació de la revuelta contra tanta violencia impune. Ante esto debemos meditar si el camino para frenar la espiral de violencia es continuar con las mismas políticas que la han alimentado como ahora es demasiado patente. La respuesta francesa al ataque muestra que la normalidad constitucional democrática está suspendida y que un estado de sitio no declarado está en vigor, que los criminales de este tipo, en lugar de ser apresados y juzgados, deben ser abatidos, que este hecho no representa aparentemente ninguna contradicción con los valores occidentales. Entramos en un clima de guerra civil de baja intensidad. ¿Quién gana con ella en Europa? Ciertamente no los partidos de izquierda como Podemos en España o Syriza en Grecia.

La libertad de expresión Es un bien precioso pero tiene límites, y la verdad es que la abrumadora mayoría de ellos son impuestos por aquellos que defienden lalibertad sin límites siempre y cuando sea “su” libertad. Ejemplos de límites son inmensos: si en Inglaterra un manifestante dice que David Cameron tiene sangre en las manos, puede ir preso; en Francia, las mujeres islámicas no pueden usar el hiyab; el 2008, el dibujante Maurice Siné fue despedido de Charlie Hebdo por haber escrito una crónica supuestamente antisemita. Esto significa que los límites existen, pero son diferentes para diferentes grupos de interés. Por ejemplo, en América Latina, los grandes medios, controlados por familias oligárquicas y por el gran capital, son los que más claman por la libertad de expresión sin límites para insultar a los gobiernos progresistas y ocultar todo lo bueno que estos gobiernos han hecho por el bienestar de los más pobres. Aparentemente, Charlie Hebdo no reconocía límites para insultar a los musulmanes, incluso cuando muchos de sus dibujos fueran propaganda racista y alimentasen la onda islamofóbica y antiinmigrante que avasalla a Francia y a Europa en general. Además de muchos dibujos con el Profeta en poses pornográficas, uno de ellos, bien aprovechado por la extrema derecha ,mostraba un conjunto de mujeres musulmanas embarazadas, presentadas como esclavas sexuales de Boko Haram que, apuntando a sus barrigas, pedían que no les fuese retirado el apoyo social a la gravidez. De un golpe se estigmatizaba el Islam, a las mujeres y al Estado de bienestar social. Obviamente que, a lo largo de los años, la mayor comunidad islámica de Europa se fue sintiendo ofendida por esta línea editorial, pero fue igualmente inmediato su repudio por este crimen bárbaro. Debemos, pues, reflexionar sobre las contradicciones y asimetrías en la vida vivida de los valores que creemos son universales.

La tolerancia y los “valores occidentales” El contexto en que ocurrió el crimen es dominado por dos corrientes de opinión, ninguna de ellas favorable a la construcción de una Europa inclusiva e intercultural. Las más radical es frontalmente islamofóbica y antiinmigrante. Es la línea dura de la extrema derecha en toda Europa y de la derecha cuando se ve amenazada por elecciones próximas (el caso de Antonis Samarás en Grecia). Para esta corriente, los enemigos de la civilización europea están entre “nosotros”, nos odian, tienen nuestros pasaportes; y esta situación solo se resuelve liberándonos de ellos. La pulsión antiinmigrante es evidente. La otra corriente es la de la tolerancia. Estas poblaciones son muy distintas de nosotros, son una carga, pero tenemos que “aguantarlas”, hasta porque son útiles; empero,solo debemos hacerlo si ellas son moderadas y asimilan nuestros valores. ¿Pero qué son los “valores occidentales”? Luego de muchos siglos de atrocidades cometidas en nombre de estos valores dentro y fuera de Europa –de la violencia colonial a las dos guerras mundiales–, se exige algún cuidado y mucha reflexión sobre lo que son esos valores y por qué razón, según los contextos, ora se afirman unos ora se afirman otros. Por ejemplo, nadie pone hoy en duda el valor de la libertad, pero lo mismo no puede decirse de los valores de la igualdad y de la fraternidad. Fueron estos dos valores los que fundaron el Estado social de bienestar que dominó la Europa democrática después de la segunda guerra mundial. Sin embargo, en los últimos años, la protección social, que garantizaba niveles más altos de integración social, comenzó a ser puesta en causa por los políticos conservadores y hoy es concebida como un lujo inaccesible para los partidos del llamado “arco de gobernabilidad”. La crisis social causada por la erosión de la protección social y por el aumento del desempleo entre jóvenes, ¿no será leña en el fuego del radicalismo por parte de los jóvenes que, más allá del desempleo, sufren la discriminación étnico-religiosa?

El choque de fanatismos, no de civilizaciones. No estamos ante un choque de civilizaciones, incluso porque la cristiana tiene las mismas raíces que la islámica. Estamos ante un choque de fanatismos, aunque algunos de ellos no aparezcan como tales por sernos próximos. La historia muestra cómo muchos de los fanatismos y sus choques estuvieron relacionados con intereses económicos y políticos que, en realidad, nunca beneficiaron a los que más sufrieron con tales fanatismos. En Europa y sus áreas de influencia es el caso de las cruzadas, de la Inquisición, de la evangelización de las poblaciones colonizadas, de las guerras religiosas y de Irlanda del Norte. Fuera de Europa, una religióntan pacífica como el budismo legitimó la masacre de muchos millares de miembros de la minoría tamil de Sri Lanka; del mismo modo, los fundamentalistas hindús masacraron a las poblaciones musulmanas de Guyarat en 2003 y el eventual mayor acceso al poder que han conquistado recientemente con la victoria del Presidente Modi hace prever lo peor. Es también en nombre de la religión que Israel continúa imponiendo la limpieza étnica de Palestina y que el llamado Emirato Islámico masacra poblaciones musulmanas en Siria y en Irak. ¿La defensa de la laicidad sin límites en una Europa intercultural, donde muchas poblaciones no se reconocen como tales, será después de todo una forma de extremismo? ¿Los diferentes extremismos se oponen o se articulan? ¿Cuáles son las relaciones entre los yihadistas y los servicios secretos occidentales? ¿Por qué los yihadistas del Emirato Islámico, que ahora son terroristas, eran “combatientes de la libertad” cuando luchaban contra Kadhafi y contra Assad? ¿Cómo se explica que el Emirato Islámico sea financiado por Arabia Saudita, Catar, Kuwait y Turquía, todos aliados de Occidente? Una cosa es cierta, por lo menos en la última década: la gran mayoría de las víctimas de todos los fanatismos (incluyendo el islámico) son poblaciones musulmanas no fanáticas.

El valor de la vida La repugnancia total e incondicional que los europeos sienten ante estas muertes debe hacernos pensar por qué razón no sienten la misma repulsa ante un número igual o mucho mayor de muertes inocentes como resultado de conflictos que, en el fondo, ¿tal vez tengan algo que ver con la tragedia de Charlie Hebdo? En el mismo día, 37 jóvenes fueron muertos en Yemen en un atentado con bomba. El verano pasado, la invasión israelita causó la muerte de dos mil palestinos, de los cuales cerca de 1.500 eran civiles y 500 niños. En México, desde el año 2000 fueron asesinados 102 periodistas por defender la libertad de expresión y, en noviembre de 2014, 43 jóvenes fueron asesinados en Ayotzinapa. Ciertamente que la diferencia en la reacción no puede estar basada en la idea de que la vida de europeos blancos, de cultura cristiana, vale más que la vida de europeos de otros colores o no europeos de culturas basadas en otras religiones o regiones. ¿Será entonces porque estos últimos están más lejos de los europeos y estos los conocen menos? ¿Acaso el mandato cristiano de amar al prójimo permite tales distinciones? ¿Será porque los grandes media y los líderes políticos de Occidente trivializan el sufrimiento causado a esos otros, cuando no los demonizan al punto de hacernos pensar que ellos no merecen otra cosa?

———–

Charlie Hebdo: Some tough quandaries

What we are facing now is not a clash of civilizations, because Christian and Islamic civilization share the same roots to begin with. What we have before us is a clash of fanaticisms, even if some of them are just too close to us to be recognized as such.

The heinous nature of the crime against the journalists and cartoonists from Charlie Hebdo makes it extremely difficult to offer a coolheaded analysis of what is entailed in this barbaric act, its context and precedents, as well as its impact and future repercussions. Still an analysis is urgently needed, lest we fan the flames of a fire that one of these days may well hit our children’s schools, our homes, our institutions and our consciences. Here are some thoughts towards that analysis.

The fight against terrorism; torture and democracy. One cannot draw a direct connection between the Charlie Hebdo tragedy and the fight against terrorism waged by the US and its allies since September 11, 2001. It is a known fact, however, that the West’s extreme aggressiveness has caused the death of many thousands of innocent civilians (mostly Muslims) and inflicted astounding levels of violence and torture on young Muslims against whom all suspicions of wrongdoing are speculative at best, as attested to by the report recently submitted to the US Congress. It is also well known that many young Islamic radicals claim that their radicalisation stems from their anger at all that unredressed violence. In view of this, we must stop and consider whether the best way to bring the spiral of violence to a halt is to pursue the same policies that have driven it so far, as has now become all too evident. The French response to the attack shows that democratic, constitutional normalcy is now suspended and an undeclared state of siege is in place, that this type of criminal should be shot dead rather than incarcerated and brought to justice, and that such behaviour in no way seems to contradict Western values. We have entered a phase of low-intensity civil war. Who in Europe stands to gain from it? Certainly not the Podemos party in Spain, nor Greece’s Syriza.

Freedom of expression. The freedom to express oneself is a precious commodity, but it, too, has its limits, and the truth is that the overwhelming majority of those limits are imposed by those who advocate limitless freedom whenever their own freedom is curtailed. The examples of such limits are legion: in England a demonstrator can get herself arrested for saying that David Cameron has blood on his hands; in France Islamic women are not allowed to wear the hijab; in 2008, cartoonist Siné (Maurice Sinet) was fired from Charlie Hebdo for writing an allegedly anti-Semitic article. What this all means is that limits do exist, it’s just that they vary for different interest groups. Take Latin America, for example, where the major media, which are controlled by oligarchic families and by big capital, are the first to cry out for unrestrained freedom of expression so that they can throw abuse at the progressive governments and silence all the good that these governments have done to promote the well-being of the poor. It seems that Charlie Hebdo knew no limits when it came to insulting Muslims, although many of its cartoons were racist propaganda and contributed to feed the Islamophobic, anti-immigrant wave now sweeping over France and Europe in general. Besides many cartoons in which the Prophet is shown in pornographic poses, one in particular was very much explored by the far right. It depicted a group of pregnant Muslim women presented as Boko Haram sex slaves, their hands resting on their belly bump, screaming “Hands off our welfare benefits”. At one stroke, the cartoon stigmatised Islam, women and the welfare state. As was to be expected, over the years the largest Muslim community in Europe saw this editorial line as offensive. On the other hand, however, its condemnation of this barbaric crime was immediate. We must therefore reflect on the 3 contradictions and asymmetries of the lived values some of us believe to be universal.

Tolerance and “Western values”. The context of the crime is dominated by two currents of opinion, none of which is conducive to building an inclusive, intercultural Europe. The more radical of the two is openly Islamophobic and anti-immigrant. These are the hardliners of the far right all across Europe and of the right wherever it feels threatened in upcoming elections (as is the case of Greece’s Antonis Samara). For this current of thought, the enemies of European civilization are among “us”. They hate us, they wield our passports, and the situation cannot be solved unless we get rid of them. The anti-immigrant overtones are unmistakable. The other current is that of tolerance. These people are very different from us, they are a burden, but we have to “put up with them”, for, if nothing else, they are useful; we should do it, however, only if they behave moderately and assimilate our values. But what are “Western values”? After many centuries of atrocities committed in the name of such values both within and outside Europe – from colonial violence to the two world wars –, a degree of caution and much reflection are in order about what those values are and also about why, depending on the context, now some of them, now others, tend to take precedence. For example, no one questions the value of freedom, but the same cannot be said for equality and fraternity, the two values underlying the welfare state that prevailed in democratic Europe after World War II. In recent years, however, social protection – which used to ensure high levels of social integration – began to be questioned by conservative politicians and is now seen as an unaffordable luxury by the parties of the so-called “arc of governance”. Isn’t it true that the social crisis caused by the erosion of social protection and by growing unemployment, especially among youth, is like fuel to the 4 flames of radicalism found among the younger generations, who, in addition to unemployment, are the victims of ethnic and religious discrimination?

A clash of fanaticisms, not of civilizations. What we are facing now is not a clash of civilizations, because Christian and Islamic civilization share the same roots to begin with. What we have before us is a clash of fanaticisms, even if some of them are just too close to us to be recognized as such. History shows that many fanaticisms and the way in which they clashed were related to economic and political interests, which in any event were never beneficial to those who suffered most at the hands of fanatics. This is the case, in Europe and its areas of influence, of the Crusades and the Inquisition, the evangelisation of colonial populations, the religious wars and the conflict in Northern Ireland. Outside Europe, a religion as peaceable as Buddhism has legitimised the slaughter of many thousands of members of Sri Lanka’s Tamil minority; in 2003, Hindu fundamentalists also slaughtered the Muslim populations of Gujarat, and the likelihood of their rise to power as a result of President Modi’s recent victory makes one fear the worst; it is also in the name of religion that Israel is carrying on with its unpunished, ethnic cleansing of Palestine and that the so-called Islamic Emirate is slaughtering Muslim populations in Syria and in Iraq. Could it be that the defense of unrestrained secularism in an intercultural Europe, where many people do not identify with this particular value, is itself a form of extremism? Do extremisms oppose one another? Do they interconnect? What relationships are there between the jihadists and the Western secret services? How come the jihadists of the Islamic Emirate, who are now seen as terrorists, used to be freedom fighters when they were fighting against Gaddafi and Assad? How is it that the Islamic Emirate is funded by Saudi Arabia, Qatar, Kuwait and Turkey, all of them allies of the 5 West? This being said, the fact remains that, over the last decade at least, the overwhelming majority of victims of all fanaticisms (including Islamic fanaticism) belonged to non-fanatical Muslim populations.

The value of human life. The absolute, unconditional revulsion experienced by Europeans in the face of these deaths should make us wonder why they do not feel the same kind of revulsion in the face of a similar, if not much higher, number of innocent deaths caused by conflicts that, at bottom, may have something to do with the Charlie Hebdo tragedy. On that very same day, 37 young people were killed in a bomb attack in Yemen. Last summer, the Israeli invasion caused the death of 2000 Palestinians, including about 1,500 civilians and 500 children. In Mexico, 102 journalists have been murdered since 2000 for speaking up for freedom of the press, and in November 2014, 43 young people were killed in Ayotzinapa, also in Mexico. Surely the difference in those reactions cannot be based on the notion that the life of white Europeans, coming from a Christian culture, is worth more than the lives of non-Europeans or of Europeans of another colour, whose culture originates in different religions or in other regions. Is it because the latter live at a remove from the Europeans and are less familiar to them? On the other hand, does the Christian injunction to love one’s neighbour proviide for such distinctions? Is it because the big media and the political leaders in the West tend to trivialise the suffering inflicted on those others, or even to demonise them to the point of making us think that they had it coming?

Related posts:

  1. Charlie Hebdo : du sacré des « Damnés de la terre » et de sa profanation
  2. What now for Europe? The instrumentalisation of the Paris attacks
  3. Boaventura de Sousa Santos: Celebrar a Ciência e a Cidadania
  4. “El capitalismo debería tener miedo de sí mismo”
  5. La difícil construcción del socialismo en Venezuela

Designed by WPSHOWER

Powered by WordPress

CES UC CES SFP
Site developed with
Software Open Source

Creative Commons License