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Brasil: Sem-tetos ocupam áreas para exigir Minha Casa, Minha Vida

Ato integra jornada de lutas pelo início da fase três do Minha Casa, Minha Vida

Foto: Sato do Brasil / Jornalistas Livres

#JornalistasLivres
Oscar Neto (Colaboraram Michelli Oliveira, Paulo Ermantino e Victor Amatucci)
24 May 2015

Exatas 168 horas (sete dias) depois de realizar duas grandes ocupações em Embu das Artes e Itapecerica da Serra, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) ocupou mais um terreno na Grande São Paulo, desta vez em Mauá. Tomada pelo mato alto, a área de aproximadamente 300 mil metros quadrados do Jardim Oratório recebeu as primeiras ripas de bambu e lonas para a montagem de barracos, usados para demarcar as áreas de cada novo morador.

Conduzidas até o local por cinco ônibus e mais 12 carros de apoio, cerca de 300 pessoas participaram da ação na noite desta sexta-feira (22), como parte da jornada de lutas pelo início da terceira fase do programa Minha Casa, Minha Vida, que está paralisado. De quebra, os sem-teto protestaram contra ajuste fiscal e os cortes orçamentários promovidos pela presidenta Dilma Rousseff.

Os motivos dos sem-teto parecem razoáveis para ocupantes de primeira viagem, como Greiceane, 28, que deixou o filho sob os cuidados de outra pessoa para comparecer ao evento. “Fiquei sabendo da oportunidade [de ter uma casa] pela minha vizinha, que participa desde o começo [do movimento]. Moro de aluguel e tenho filhos. Paguei uma moça pra ficar com eles pra eu vir aqui hoje”.

Para Maria MTST, como é conhecida a integrante da coordenação estadual do movimento, dificuldades como essas formam a base de toda a batalha por terra. “A partir do momento em que somos pressionados de todos os lados e não temos nenhum tipo de alternativa, vamos para a luta da ocupação de terrenos. Precisamos de um lugar pra colocar a cabeça. Tudo é possível quando estamos juntos. O salário é uma miséria. A gente acaba tendo de escolher entre pagar o aluguel ou colocar comida na mesa”, diz.

Líder das ações realizadas na região do ABC e municípios adjacentes, Maria organizou e participou de dezenas de ocupações. Baixinha e tímida, ela se transforma ao discursar para os sem-teto na primeira assembleia. E agita a galera.

Lá fora, viaturas da PM fazem questão de passar várias vezes diante da ocupação, sempre em marcha lenta e com os faróis apagados.

Calmaria X Tensão
Se a polícia não esboçou reação, os vizinhos tampouco. Todos acompanhavam curiosos, sem interferir. No máximo, deixavam as suas opiniões sobre o que presenciavam. “Esta aqui [referindo-se a ocupação em curso naquele momento] eu acho válida. Mas tem uma área que estão invadindo ali do outro lado que é o seguinte: todo mundo ali já tem terreno e está invadindo. Meu filho que mora lá pegou mais três pedaços de terra e vendeu, mas sabe que é uma área que não pode ser vendida”, comenta um dos moradores locais.

Com tamanha calmaria, o momento de maior tensão — ou o mais curioso — foi quando o último dos ônibus do comboio que transportava os trabalhadores sem teto “travou” em uma curva fechada nas ruas do bairro. Nessa hora, a ocupação já ocorria e só faltava aquele último ônibus chegar. Encalacrado, o veículo chegou a encostar e um poste, balançando os fios. Na mesma hora, por coincidência, viaturas policiais surgiram e um dos soldados (inexplicavelmente com uma arma em punho) tentou desembolar a confusão de trânsito. No fim, o motorista conseguiu passar a esquina e os policiais foram embora aparentemente sem desconfiar do motivo pelo qual um ônibus transitava cheio de gente pela região durante a madrugada.

Guilherme Boulos, líder do MTST, não esconde as preocupações em cada ocupação. “Todos os atos iguais a este são um processo muito tenso porque lamentavelmente a polícia está preparada pra assegurar a todo custo o direito à propriedade sem pensar na função social que ela deveria ter. A polícia age na ilegalidade e o estado pune os pobres, seguindo uma lógica historicamente constituída. Nós do movimento temos de agir com muitas precauções e cuidados, porque contamos com idosos, crianças e mulheres grávidas e temos responsabilidade com essas famílias”, conclui.

Sem-tetos ocupam áreas para exigir Minha Casa, Minha Vida

Texto e fotos: equipe dos #‎JornalistasLivres‬ nas ocupações de Itapecerica da Serra e Embu das Artes; e na redação

MTST organiza ações na Região Metropolitana de São Paulo e cobram promessas de Dilma Rousseff

Foto: Sato — Ocupação Embu

Os rostos dentro dos cerca de 20 ônibus que saíram de diversos pontos da zona sul de São Paulo na noite de sexta-feira (15/05) não escondiam a ansiedade pelo que os esperava. Eles estavam a poucos minutos de ocupar dois imensos terrenos, um em Itapecerica da Serra, com 250 mil metros quadrados. O outro fica em Embu das Artes e tem 300 mil metros quadrados.

A polícia reprimiria? Os seguranças atirariam? Haveria confronto? Mas os cerca de 1.600 sem-tetos que, a partir das 23h puseram-se em marcha, em um comboio que reuniu também dezenas de carros e muita gente a pé, tinham, além da apreensão, o desejo e a disposição de lutar por uma moradia digna.

Eles querem um teto. Querem uma casa para morar. Atenderam ao chamado do MTST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, para engrossar as ações que visam exigir a reforma urbana e o lançamento da terceira etapa do programa “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal, que está paralisado por força do ajuste fiscal. Às duas ocupações realizadas ontem na região metropolitana de São Paulo, devem se somar outras nos próximos dias.

Era gente como Gilvane. “Eu morava de aluguel. Pagava R$ 600 mais luz e água, e vim para cá porque fui despejada e não tenho onde morar”, disse ela, que tem três filhos.

Ou Francisca, na luta há oito anos: “Estou aqui porque moro com meu irmão, tenho filhos e crio eles da forma que Deus quer. Crio sozinha, eu e Deus. Preciso de um teto para morar com meus filhos. Eu estou feliz, eu vou com o movimento para todo canto, falo para o patrão que vou viajar e vou. Eu trabalho em uma fabrica de reciclagem e não tenho vergonha disso, é de lá que tiro para os meus filhos comerem. É com luta que agente consegue. Trabalho nessa fábrica o mesmo tempo que estou na luta. A gente só consegue as coisas se lutarmos. Parada, não se consegue nada. ”

Marlene é outra “guerreira”, como se denominam os integrantes do MTST. Ela está há 1 ano e 6 meses na luta no movimento: “Morava de aluguel, hoje moro de favor. Tenho fé em Deus em ter minha casa, algo nosso. Criei 4 filhos sozinha, só com Deus mesmo, tenho fé que irei conseguir minha casa própria, não é fácil morar de favor, quero ter minha liberdade meu cantinho de fé em Deus.”

O Movimento dos Sem-Teto tem uma maioria de mulheres, o que é visível no acampamento. E, entre elas, estão muitas com idades avançadas e feições cansadas, mas que não desistiram da luta. Depois de criarem os filhos, entraram no movimento em busca de um teto para chamar de seu. Maria de Jesus, 68 anos, trabalha como cuidadora de uma senhora com Alzheimer, trabalho pelo qual ela ganha R$ 900 reais. O aluguel custa mais da metade do salário de Maria.

Especulação Imobiliária
As duas ocupações realizadas nesta sexta-feira foram preparadas ao longo de meses. Dirigentes do movimento realizam uma ampla pesquisa sobre as áreas disponíveis, antes de qualquer ação. No caso, os dois terrenos são áreas chamadas de Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social, destinadas à moradia popular). Estão abandonados há anos à espera de valorização imobiliária.

“É incrível que tanta gente sofra com a falta de moradia digna enquanto esses terrenos gigantescos permanecem vazios e sem cumprir função social alguma”, diz Ewerton de Almeida, operador de máquinas, 21 anos, desde os 17 anos na luta pela moradia. “Minha mãe mora em uma ocupação e eu nasci para a vida consciente com o MTST. Vim aqui para ajudar”, disse.

Muitas das pessoas ali presentes montavam as suas barracas de bambu e lona, mas para “reservar” o espaço para outras famílias. “O movimento é assim, todos fazem assim. Eu catei e montei para marcar o lugar. Outra pessoa vem pegar”, diz José Luiz, 34, pedreiro, que não será um dos novos habitantes do espaço.

Solidariedade
O trabalho solidário é um traço desta noite de ocupação. Bastava uma olhada ao redor e uma conversa com os demais envolvidos no ato para ver que muitos faziam a mesma coisa. “Um aprende com o outro a montar as barracas”, explica o também pedreiro Ailton Gonçalves. “É muito cansativo, mas tem que correr atrás de alguma coisa. E ainda nos veem como gente que não tem o que fazer”.

“Hoje estou aqui por causa de um amigo, somente para demarcar o espaço da barraca. Eu moro em outra ocupação, com meus dois filhos. Essa é uma chance de ter uma casa própria e uma alternativa ao aluguel que eu pagava, de R$ 380, que é muito caro”, conta.

A chegada aos terrenos foi o momento de adrenalina máxima. As ocupações têm de ser realizadas com rapidez, as barracas de lona tem de ser montadas correndo. O propósito é “consolidar” a ocupação o quanto antes, a fim de evitar a ação policial. É que, uma vez consolidada a ocupação, segundo o advogado do MTST, Felipe Vono, caracteriza-se a posse do terreno pelos sem-teto. Se ocorrer, o despejo só poderá ser realizado mediante determinação judicial.

Kits de ocupação foram distribuídos aos sem-teto. Compunham-se basicamente de mastros de bambu (os esqueletos das barracas), plástico preto (o teto), fitilhos para amarrar tudo. Em menos de uma hora, centenas de barracas estão erguidas, colchões são instalados dentro delas.

Na ocupação realizada no Embu, entretanto, houve uma emoção a mais: quase uma hora depois da ocupação, barracas já erguidas, chegaram duas viaturas da Polícia Militar e uma da Polícia Metropolitana. Pararam bem em frente à entrada do terreno.

Bomba de efeito moral
Lideranças e vários coordenadores do MTST tentaram negociar com os policiais. O clima esquentou, um dos ocupantes saiu correndo e dizendo, aos gritos, ter sido atingido por gás de pimenta. Pedia que todos em volta filmassem a ação da polícia de seus celulares. Uma bomba de efeito moral foi lançada pela PM na tentativa de dispersar os sem-teto.

Foi nessa hora que, de um ônibus retardatário saíram 9 repórteres e fotógrafos da Rede Jornalistas Livres, que desembarcaram do veículo já com suas câmeras registrando a ação policial. Outras duas viaturas passavam em alta velocidade em frente ao terreno, fechando a rua –tensão total. Enquanto isso, bambus e lonas continuavam sendo freneticamente transformados em barracos.

E logo veio a primeira vitória do movimento, quando os PMs se retiraram, dizendo que só poderiam tomar alguma medida após denúncia de invasão do terreno. Levantou-se o grito de guerra: “MTST, a luta é pra valer!”

Segundo Josué Rocha, um dos coordenadores do MTST, apesar de particular, o terreno está completamente abandonado há quase 20 anos. “Já temos barracos sendo levantados lá dentro e só vamos parar quando atingir o limite de espaço de toda a área. Esperamos chegar aos quatro mil ocupantes.”

A ocupação de Itapecerica fica muito próxima de outra, chamada Vila Nova Palestina, há um ano e meio consolidada, à espera do início da construção das moradias. A expectativa da coordenação do MTST é que esse acampamento receba a adesão de outras famílias da vizinhança. Segundo Guilherme Boulos, coordenador do MTST, o acampamento deve reunir nos próximos dias mais de cinco mil famílias.

Frio, garoa e escuridão
A noite está gelada. Os termômetros marcam 13ºC, mas a sensação térmica é de um frio bem mais intenso –10ºC, por causa da garoa fina e congelante que insiste em cair sobre o terreno. Apesar disso, a direção adverte, está proibido fazer fogueira… Uma faísca sobre os tetos plásticos poderia produzir um desastre. Os sem-teto obedecem.

Outros artifícios para esquentar, como tomar um trago de bebida, só podem ser usados fora do acampamento. Bebidas alcoólicas e drogas são terminantemente proibidas dentro das ocupações.

Os terrenos são um breu sinistro — ainda não deu para puxar a eletricidade. Em Itapecerica, bem no meio de um campo de futebol abandonado, repousam as carcaças enferrujadas de uma Kombi e de um Fusca “desmanchados” (sem rodas, bancos, motores, sem nada).

Os coordenadores do MTST anunciam na primeira assembleia, realizada a partir das 2h30, que o campinho será reativado para as peladas entre os sem-teto. “Não pode montar barraca entre as duas traves, tá?” O povo obedece.

Logo chegam os mantimentos da cozinha comunitária. Arroz, feijão, macarrão para centenas de pessoas. E o fogão, os panelões e o gás. Uma liderança pede desculpas “porque agora não dá para servir nada além de um café quentinho com uns sanduíches de mortadela”. Mas, promete, “amanhã, teremos leite, pão e manteiga”. Tudo certo.

“Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga, não atiça o formigueiro”, cantaram os sem-tetos nas duas ocupações, ao final das suas assembléias. “A luta só está começando para muitos como eu, mas a esperança é imensa, tão grande quanto esse terreno”, diz Maria Auxiliadora, 56 anos, cozinheira, no movimento há apenas dois dias.

*Colaboraram: Bruno Miranda, Christian Braga, Edgar Bueno, Edvam Filho, Giovanna Consentini, Jardiel Carvalho, Laura Capriglione, Lina Marinelli, Maria Carolina Trevisan, Michelli Oliveira, Oscar Neto, Paulo Ermantino, Rodrigo Zaim, Sato do Brasil, Victor Amatucci, Viviane Ávila, Wesley Passos e William Oliveira.
Enviamos um abraço ao querido #JornalistaLivre Paulo Ermantino, que fraturou o úmero em uma queda dentro da ocupação no Embu. Força, guerreiro!

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