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Para que Junho não seja aniquilado dentro de nós

Quando a água que brota dos olhos, com revolta e certeza, se sublima e transmuta em criatividade insurgente, resistência poética e confronto de almas e corpos, entra em cena uma nova forma revolucionária de ser, sentir e lutar.

Especial para ALICE News
19 Jun 2014
Isabella Gonçalves Miranda

O ano de 2013 foi marcado pela democratização da democracia brasileira a partir das ruas. Em junho, pelo menos um milhão de pessoas ocuparam os espaços públicos e as redes sociais com a expressão de descontentamentos e desejos de transformação social, questionando a redução do exercício do político à esfera da institucionalidade.

As principais cidades do país foram palco de uma efervescência política e cultural sem precedentes, que gerou novos coletivos e movimentos sociais e fortaleceu a radicalidade da lutas urbanas. As ações diretas como greves, trancamentos, marchas e ocupações passaram a ser tomadas de outra maneira pela opinião pública e pelos meios de comunicação. Nos meses seguintes, junho permaneceu vivo nas cidades. A cidade do Rio foi tomada pela greve dos professores, o Ocupa Cabral e levantes da periferia contra a violência policial. Em Belo Horizonte, movimentos culturais e políticos se associaram para fazer ocupações culturais de espaços públicos e ocupações de terras para fins de moradia, agregando mais de 15.000 famílias. Em São Paulo nasceram mais de 90 ocupações de moradia e ocupações culturais e, nas vésperas da Copa do Mundo, grandes marchas de metroviários, militantes pelo passe livre e sem teto coloriram as ruas de vermelho.

Na medida em que Junho se tornou mais radical, popular e contestatório, os poderes financeiros e imobiliários perceberam que essa situação era demasiado perigosa. A aproximação da Copa do Mundo, maior evento do capitalismo global, exigia a redução da democracia à institucionalidade, retirando das ruas a sua potencialidade de se figurar um espaço de lutas ampliadas por direitos. Desde então, os coletivos, movimentos e indivíduos passaram a ser alvo de dura criminalização e descredibilização do protesto pelos meios de comunicação e de uma crescente repressão estatal.

A dualização entre manifestantes e vândalos, promovida pelo Estado e pela grande mídia, produz a imagem de que algumas pautas de teor mais nacionalista e difuso eram democráticas e justas, ao mesmo tempo em que eram invisibilizadas as pautas construídas mais à esquerda, como a própria questão da redução da tarifa, a desmilitarização da polícia e o fim do massacre da juventude negra, além dos ataques direcionados aos governos locais, responsáveis pela privatização das cidades. Além de imputar aos grupos mais à esquerda o “radicalismo”, por meio da construção “manifestantes versus vândalos”, a mídia legitimava a violência policial e definia uma forma certa, aceitável e dócil de se manifestar.

Durante a Copa do Mundo, a direita brasileira passou a difundir a ideia de que “lugar de manifestação é nas urnas”, ou nos camarotes dos estádios, espaço de gente privilegiada de onde ecoaram vaias e xingamentos à presidente da república. A chamada “revolta do camarote” protagonizada pela elite, apelidada ironicamente de yellow blocks, é um retrato de uma classe social que mesmo se beneficiando do crescimento econômico do país e da privatização das cidades no contexto do megaevento Copa do Mundo, não pode deixar de aproveitar para atacar um governo que, no cenário latino-americano, ainda representa uma promessa popular, ainda que cada vez mais evasiva.

Protegidos atrás da tela dos telões de jogos, essa elite sempre desprezou a luta social e se beneficiou de sua proximidade com o Estado, ou seja, de uma democracia trivializada e seqüestrada por interesses econômicos e relações interpessoais permeados por “favores” e “jeitinhos”. Confortável com o povo acalmado, ela explora a insatisfação dócil de vários brasileiros com a Copa do Mundo sem qualquer ônus econômico ou político, enquanto criminaliza qualquer um que queira fazer barulho na festa.

Movimentos sociais e ativistas independentes, que estiveram extremamente ativos no cenário urbano desde junho, e que nos meses seguintes se empenharam na ocupação dos espaços públicos e na luta por direitos, durante a Copa vão às ruas pela reparação dos direitos violados no contexto de realização da Copa do Mundo e contra o estado de exceção instaurado no país. São pessoas que mais cuidadosamente guardaram Junho dentro de si e que vêem hoje essa promessa de intensificação democrática esmagada pela repressão policial, pelo estado de exceção instaurado no país e pela criminalização da ação política extra-institucional.

No dia 12 de Junho, a violência da polícia militar e mais o gol contra do Brasil marcaram a abertura da Copa do Mundo. Instituição criada durante a ditadura militar essa polícia, que é treinada para o militarismo e não para a segurança pública e já teve a sua extinção solicitada pelas nações unidas, esteve pronta para reprimir durante manifestações. Cerca de 2 mil milhões de reais foram investidos em ‘segurança, na compra de armamentos, equipamentos de vigilância e treinamentos. Em novembro de 2012, o governo federal comprou 50 milhões de reais em armas “menos letais”.

Justificando a sua atuação em um contexto de acesso pelo amparo de legislações inconstitucionais, como a Lei Geral da Copa, essa polícia realizou em diferentes locais do Brasil detenções arbitrárias em massa, revistas coletivas públicas, procedimentos de cercamento das manifestações para impedir marchas, além de espancamentos e até práticas de tortura, como ocorreu em Belo Horizonte com a mídia ativista Ninja, Karinny de Magalhães (acesse o relato aqui).

A repressão das manifestações no período da Copa atentam contra os mais básicos direitos civis e políticos dos brasileiros e tem criado uma cidade de exceção, exceção essa que aprofunda a regra do país: uma democracia militar cortada por fortes desigualdades sociais “geridas” por uma concertação política que quer agradar, simultaneamente, a trabalhador e patrão; camponês e latifundiário; especulador e ocupação.
Toda a criminalização e repressão dos protestos, aliados ao marketing e a força da propaganda capitalista, tiveram um objetivo claro: matar junho! Impedir que a Copa do Mundo, assim como foi a Copa das Confederações, se transformasse em um período de intensificação da luta social.

As manifestações que se iniciaram para exigir a reparação dos direitos violados das populações no contexto da Copa do Mundo, e para denunciar a política da FIFA e o estado de exceção instaurado no país, converteram-se, em grande medida, em protestos pelo direito de manifestar. Assim como em Junho de 2013 pessoas saíram às ruas revoltadas com a violência policial na repressão dos protestos pela redução da tarifa em São Paulo, fazendo um apelo aos direitos e à democracia, hoje ativistas lutam para que esse estado de exceção não deixe no país um legado ainda mais profundo de militarismo e repressão.

Ao contrário do que propagam os meios de comunicação, as manifestações são contra a violência. Para os manifestantes essa Copa é violenta, até hoje tem gente sem casa, sem trabalho e presa por lutar. Os ativistas querem a paz, mas não existe paz sem voz, por isso reafirmam a necessidade de ocupar as ruas durante a Copa do Mundo mesmo diante das condições mais adversas, porque para transformar o país não adianta torcer, é preciso lutar!

No meio de uma parede policial repressora, essas pessoas conseguem afirmar a democracia real e popular por meio da resistência e da organização coletiva. Assembleias são realizadas dentro de cercamentos policias para debater os rumos das manifestações. A fragilidade de seus corpos contrasta com a fortaleza das suas convicções e da capacidade de resistência e criatividade.

Em Belo Horizonte, com intervenções criativas na cidade como performances, shows e campeonatos de futebol de rua, os manifestantes quebramos o cerco policial com uma arte confrontativa, com direito ao tropeiro do Mineirão, proibido nos estádios da FIFA. Formaram-se mais de 34 times, um retrato da confluência das pautas políticas e da construção de uma unidade aberta por uma cidade das pessoas e não do capital. Jogaram feministas, ocupantes, feirantes, o povo da rua, artistas, palhaços, hippies, marxistas, argentinos, venezuelanos, anarquistas e outros libertários. Quem apareceu e não topou tirar a farda e entrar no jogo foi a PM, que ficou de atenta espectadora, vendo a alegria do povo e o cheirinho de tropeiro do Mineirão, mas perdeu de W.O.

Outras ações como essa, como a Copa Rebelde e os campeonatos nas comunidades do Rio, mostram que os manifestantes estão dispostos a fazer um Gol da resistência e da criatividade coletiva contra a repressão e o medo!

Para que junho não seja aniquilado dentro de cada um e cada uma, brotou dos olhos dos manifestantes, junto às lágrimas de revolta, uma paixão compartilhada pela cidade que amam e pelas pessoas que fazem dela algo mais do que um território de indiferença, controle e desencontro. A capacidade de permanecer nas ruas revela que o movimento está mais maduro, e se alguém achou que iriam recuar diante da criminalização midiática e do estado de exceção promovido pela FIFA, eles e elas provaram que estão 100% na rua e 100% anticopa, e assim estarão durante todo o campeonato e depois dele.

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