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Profetas das chuvas e a ecologia

Participar do XX Encontro dos Profetas da Chuva foi uma experiência única. Foi uma manhã de grande aprendizado em Quixadá, pois tive uma verdadeira “aula magna” sobre a sabedoria popular camponesa e a cultura sertaneja. Grandes intelectuais da atualidade, como Edgard Morin (Centre Nationale de Recherche Scientifique de Paris), da corrente do pensamento complexo, ou Boaventura Santos (Universidade de Coimbra), defensor da ecologia dos saberes, apreciariam muito a experiência. Os relatos das previsões guardam uma riqueza e diversidade nos seus métodos.

Diário do Nordeste
17 Jan 2016
Fernando Carneiro*

A maioria dos profetas é idosa e, portanto, afirma que suas experiências têm, no mínimo, 40 anos de aplicação. Seus parâmetros de análise se baseiam nos astros, nas nuvens, na observação da fauna e da flora, com testes da pedra de sal em datas específicas e nos seus próprios sentidos. Alguns se autodenominam cientistas populares ou da natureza, pois suas previsões partem de uma rigorosa observação cotidiana da mesma. É importante destacar que a maioria, além do vínculo com a terra, é também poeta e há até alguns escritores.

Que lições os profetas da chuva podem dar aos cientistas?

Fazendo o diálogo com Morin, podemos adiantar que eles nos ajudam a pensar de forma complexa. A ciência moderna, a título de simplificar para captar o real, muitas vezes adota práticas de recortar tanto seu objeto de análise que acaba ficando com sua análise limitada.

Não é fácil controlar tantas variáveis como as envolvidas no clima, mas vejam como os profetas lidam com vários indicadores. É evidente que existem limitações em todas as abordagens, tanto a científica quanto a popular. Nesse momento é oportuna a prática da ecologia dos saberes. Ela não nega os avanços da ciência moderna, mas não trata o conhecimento popular como algo inferior ou folclórico.

Ambos cumprem papéis muito importantes na nossa sociedade e o desafio é fazer esses conhecimentos dialogarem em prol de um mundo melhor. Será que existe possibilidade de complementaridade nos prognósticos meteorológicos científicos com os dos Profetas da Chuva? Em vez de competição haverá espaço para um diálogo de saberes onde existe um respeito e uma relação horizontal, cujo objetivo maior é orientar os agricultores a encontrar o momento certo para plantar?

A Fiocruz decidiu priorizar, em seu âmbito nacional, o tema da relação água e saúde para ações de pesquisa, formação e cooperação. No Ceará, um de seus focos também será o de fomentar o desenvolvimento de tecnologias socioambientais de cuidados com a água voltado para o convívio com a seca. Está sendo elaborada uma proposta de mestrado profissional sobre saúde, saneamento e direitos humanos em rede com as universidades públicas do Nordeste e o desenvolvimento de linhas de pesquisa para a produção de conhecimento que promovam esse diálogo de saberes. Recebemos uma homenagem no encontro e assumimos a honraria como um símbolo de nosso compromisso com essa causa tão importante para o povo do sertão. Finalmente, tivemos uma manhã animada, regada de alegria e esperança de que este ano vai ser possível plantar e colher no sertão do Ceará. Para alguns até com fartura, pois estamos vivendo a pior seca dos últimos 50 anos no Nordeste. A última profecia terminou com um canto de um profeta: e naquele momento, literalmente, começou a chover.

*Biólogo e pós-doutor em sociologia

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