Boaventura de Sousa Santos
Boaventura de Sousa Santos é o diretor do projeto ALICE. É Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison, Global Legal Scholar da Universidade de Warwick e diretor do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
Nasceu em Coimbra, a cidade onde veio a licenciar-se em direito, em 1963. No final do curso, rumou a Berlim para estudar filosofia do direito. Fez uma pós-graduação e viveu a experiência dos dois mundos da guerra fria separados pelo Muro de Berlim. Dois anos depois, regressou à cidade Natal e durante um breve período foi assistente da Faculdade de Direito. Foi-se afastando da ciência jurídica e optou por fazer o doutoramento nos Estados Unidos. Partiu para a Universidade de Yale em finais dos anos 1960’ e passou por aquilo que já descreveu como uma “vertiginosa transformação tanto científica como política”. Em poucos meses, passou do direito penal para a criminologia, desta para a sociologia do direito e, finalmente, para a sociologia. Inicia um processo de verdadeira descoberta do Marxismo, que, há alguns anos, classificou como “descoberta permanente”, apesar das limitações que lhe reconhece na sua obra. A sua tese de doutoramento é um marco fundamental na sociologia do direito e na sua vida. Fez trabalho de campo centrado em observação participante, que durou vários meses, numa favela do Rio de Janeiro. Desse modo, viveu de perto a luta dos excluídos contra a opressão e conheceu a sabedoria de homens e mulheres em luta pela subsistência e pelo reconhecimento da dignidade.
Foi um dos fundadores da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra em 1973, onde veio a criar o curso de sociologia. Em meados da década de 1980, começa a assumir estruturalmente o papel de um investigador para quem a compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo. Faz investigação no Brasil, em Cabo Verde, Macau, Moçambique, África do Sul, Colômbia, Bolívia, Equador e Índia. Viaja por muitos lugares, dando aulas e palestras e alargando o seu leque de experiências de aprendizagem. Foi um dos principais impulsionadores do Fórum Social Mundial. O espirito que envolve o Fórum é fundamental nos seus estudos da globalização contra-hegemónica, mas também na promoção da luta pela justiça cognitiva global que subjaz ao conceito das epistemologias do sul.
O projeto Alice é um momento importante no seu percurso científico e profissional, já que lhe permite rodear-se de uma equipa de jovens investigadores originários de vários países e formações científicas, dispostos a aprofundar coletivamente as linhas de investigação que decorrem das premissas epistemológicas, teórico-analíticas e metodológicas que vêm ganhando consistência desde há muito no seu trabalho.